Da minha ausência de fôlego que me recupera as energias

Um copo de cólera para que eu recupere o fôlego.
Enqüanto eu recupero o fôlego à medida que o mesmo vai se esvaindo de mim.
E é nessa exata medida em que o fôlego de mim se esvai que meu fôlego, pouco a pouco, se recupera.

Eu necessito disso. Dessa ausência de fôlego.
É dessa ausência que as micropartículas de vida e sangue se constituem.
Ao menos em mim.

Há algo de Vogler ao olhar-me diariamente no espelho.
Algo a me fazer colocar com violência os pés no chão.
Enqüanto aparento flutuar por entre os demais.
Todo o resto.
Pouco importa(m).

Vogler escasseia meu fôlego.

E é na escolha de palavras, é sempre na escolha de palavras, que o face a face se manifesta.
É na escolha de palavras que o espelho se torna fluido e dessa fluidez nasce algo remotamente semelhante ao que se costuma chamar de verdade.
Na qual não acredito - preciso ratificar.
Não sei se preciso tanto quanto quero.

Eu quero.
Isso sim importa.

Por isso a sensação de ser tão, tão feliz.
Tão plena com tantos em volta e tão poucos aqui dentro.
O conglomerado demográfico dentro das minhas vísceras incomoda em extremo.
Particularmente quando o conglomerado demográfico que em muito obstruiu minhas artérias era composto de um só.

Por isso o mergulho.
Por isso a ausência de fôlego.
Porque há necessidade de exumação.

E exumação é cerimônia fúnebre.
Mas cerimônia que é, não lhe faltam rituais, convidados, não convidados, e comes e bebes.

O comes e bebes instalou-se na minha casa agora.
Mas não te confundas. Porque da minha carne ninguém come, nem bebe.
Imaterializei-me afinal.

- após anos e anos e anos de aprendizado forçado, finalmente aprendi a utilizar-me do truque em meu benefício -