Pelas magnólias que florescem em segredo ali, no meio do aparente nada.
"Debruça-se na janela até sentir as batatas das pernas queimando. Mas batata da perna é um nome tão feio... Desejaria que lhe chamassem magnólias. Porque o que sente queimar são suas magnólias. Não que não possua batatas. Todos as possuímos. Ainda que escondidinhas, entre um saco de cenoura e outro repleto de agrião. Tentando não ocupar espaço e a preencher todas as frestas do lado de dentro da porta. Até que: escapam! Mas ainda que possua batatas e que só há bem pouco tenha se preocupado em escondê-las de quem quer que fosse, sente que ali átrás das dobrinhas do joelho possui magnólias.
As magnólias a queimarem-na.
Ajusta-se na janela, empurrando o corpo para fora, a tentar equilibrar-se na sutileza de pontas de pés.
E olha...
São breves cinco segundos de delicado equilíbrio e alguma tentativa de interesse. Sendo que a única coisa que salva é o sentimento de possuir flores em chamas a chamarem-lhe para dentro. Se não fosse isso, adormeceria ali mesmo. Esticada sobre a longa avenida povoada. A longa avenida poluída e maltratada pelo tempo e pelos transeuntes - ainda que quisesse dizer passantes [ ainda que não sejam exatamente isso. não passam. adornam de forma bruta e quase insultante. ].
Um ônibus passa levantando a poeira semi-cáustica até o topo do edifício. E do alto da janela suas narinas se ouriçam agitadas na ânsia de que algo tenha sentido. Nesse caso, cheiro, provando haver olfato. Há olfato. E isso, somente. Porque as micropartículas repletas de falta de vida e abundantes em ostentação de um nada quase odioso apenas passam. Pode-se vê-las no ar subindo como balões em direção ao topo de não-se-sabe-bem-o-quê. Flutuando... Sem tocar, sem esbarrar, sem invadir, sem provocar. Sem sentido.
Nada ocorreu.
Durante cinco segundos ficou a olhar. E mesmo ouriçando narinas, aguçando sentidos, extraindo o melhor que podia das flores com cheiro bom de assado em dia de domingo no campo: nada.
A poeira passava ali. Em frente aos olhos, do alto do sexto andar. Mas inodora, incapaz de penetrar.
Descubriu-se cuidadosa e carinhosamente embalada a vácuo quando se tratava disto. De poeira urbana envelhecida.
E após cinco segundos de mero esforço muscular concluiu seus trabalhos.
Sorriu brevemente e voltou para dentro de casa. Com uma excitação boa por trás dos joelhos, e uma certa sensação de sono sem cansaço. "
...............................................................................................................................
Porque é possível ter a vida que é mais coerente consigo própria. E no fundo, é só isso que ela procura.
...............................................................................................................................
É capaz de olhar nesse instante e ver-se cercada pelo silêncio e pela esperança confusa - advinda do deixar-se viva, permitir-se viver - e percebe estar em boa companhia.
Será que vocês percebem?!
As magnólias a queimarem-na.
Ajusta-se na janela, empurrando o corpo para fora, a tentar equilibrar-se na sutileza de pontas de pés.
E olha...
São breves cinco segundos de delicado equilíbrio e alguma tentativa de interesse. Sendo que a única coisa que salva é o sentimento de possuir flores em chamas a chamarem-lhe para dentro. Se não fosse isso, adormeceria ali mesmo. Esticada sobre a longa avenida povoada. A longa avenida poluída e maltratada pelo tempo e pelos transeuntes - ainda que quisesse dizer passantes [ ainda que não sejam exatamente isso. não passam. adornam de forma bruta e quase insultante. ].
Um ônibus passa levantando a poeira semi-cáustica até o topo do edifício. E do alto da janela suas narinas se ouriçam agitadas na ânsia de que algo tenha sentido. Nesse caso, cheiro, provando haver olfato. Há olfato. E isso, somente. Porque as micropartículas repletas de falta de vida e abundantes em ostentação de um nada quase odioso apenas passam. Pode-se vê-las no ar subindo como balões em direção ao topo de não-se-sabe-bem-o-quê. Flutuando... Sem tocar, sem esbarrar, sem invadir, sem provocar. Sem sentido.
Nada ocorreu.
Durante cinco segundos ficou a olhar. E mesmo ouriçando narinas, aguçando sentidos, extraindo o melhor que podia das flores com cheiro bom de assado em dia de domingo no campo: nada.
A poeira passava ali. Em frente aos olhos, do alto do sexto andar. Mas inodora, incapaz de penetrar.
Descubriu-se cuidadosa e carinhosamente embalada a vácuo quando se tratava disto. De poeira urbana envelhecida.
E após cinco segundos de mero esforço muscular concluiu seus trabalhos.
Sorriu brevemente e voltou para dentro de casa. Com uma excitação boa por trás dos joelhos, e uma certa sensação de sono sem cansaço. "
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Porque é possível ter a vida que é mais coerente consigo própria. E no fundo, é só isso que ela procura.
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É capaz de olhar nesse instante e ver-se cercada pelo silêncio e pela esperança confusa - advinda do deixar-se viva, permitir-se viver - e percebe estar em boa companhia.
Será que vocês percebem?!
2 Comments:
percebo. e acho ótimo.
bom pra gente.
=)
Adorei o detalhe das magnólias.
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