1.16.2008

Depressão só é chique em editoriais de moda ou se o seu sobrenome tem peso social suficiente para provocar drama por si só.

Cansada.

A curvatura que se forma no início das minhas pálpebras latejam em sinal de dor.


Sinto meus dedos se esforçarem vagarosamente sobre um teclado que não é meu.


E só digo isso porque desejo estar em casa.


Um desejo recorrente nos últimos dias mas que mesmo quando aparenta ser real revela-se ilusório.

A última vez que me recordo da sensação de estar perto de casa foi no dia das laranjas espalhadas pelo sofá e tapete da sala. Suco de laranja, gelo e travesseiro. Me senti quase lá.

O irônico é que eu me isolo dentro de uma estrutura física opressora exatamente para me sentir mais perto, mas o resultado é sempre o mesmo e acaba que tudo se torna apenas uma questão de opção. Entre o opressor e o tão opressor quanto, talvez um pouco mais. E por esse detalhe mínimo o talvez um pouco mais perde. Mas é tão, tão mínimo que fica a pergunta: e vale a pena?

Tem que valer, não tem? Ou então seria uma sucessão de macaquinhos irônicos brincando no meu pulso esquerdo, porque quando nada mais me resta eu preciso rir de mim mesma. Se não valer a pena eu não sei o que sobra. E talvez seja por isso que eu tenha que me convencer disso. Afinal é o que me dizem, também incertos, também sem saber do que falam, também sem parar para pensar. Pensar machuca e desencoraja.


São assim os meus dias. Doses substanciais de pessimismo, surtos recorrentes de mau humor. Mas principalmente, muito, muito desânimo.

Não tem brilho nos olhos, não existem sonhos ao dormir à noite. É Dormonid embaixo da língua e catpluft! Acabou.

Mas não acabou. Só se fossem duzentos Dormonids garganta abaixo. Mas Dormonid custa caro. R$68,00 a caixa com 30, o que resulta numa despesa de quase R$500,00 por algo que não só não tem garantia de dar certo como pode dar mais errado do que já está dando.



Sempre lembro da história contada por uma conhecida da época do colégio sobre uma suposta tia que tomou uns sei-lá-quantos-mas-muitos comprimidos de Lexotan ou coisa-que-o-valha e ao invés de acabar morta e dar fim ao sofrimento e angústia que sentia, acordou no dia seguinte completamente cega, porém viva.


A cegueira permanece até hoje. Aparentemente, pelo que me foi contado, a angústia e o sofrimento também, mas talvez um pouco mais.

É isso então? É isso que nos prende, o talvez um pouco mais?


E de talvez um pouco mais em talvez um pouco mais, talvez um pouco mais de tempo não faria tanta diferença. Talvez um pouco mais de horas não vão matar ninguém. Talvez um pouco mais de dias seja o suficiente. E lá se vão quantos anos?

Eu não sei. Mas os anos que se vão são proporcionais ao meu desapontamento. E é com ninguém mais além de mim mesma que eu me aborreço. Porque a distância de casa não é culpa de ninguém, somente minha.

O que dói é saber que não é por total falta de possibilidade essa inércia. Minha inércia é derivada da mais ordinária cara de pau e de um desprezo cortante por tudo aquilo que está ao alcance. Gato caça rato enquanto rato foge do gato. Se rato pára de fugir e coloca-se de pé, bem ali, na frente do Gato, acabou o desejo. O Gato brochou.

Meu desejo é por um rato em fuga. O rato palpável não me importa.



O irônico é que a beleza de se desejar algo que não se possui é asolutamente oca, desprovida de qualquer propósito. Não revela a mínima potencialidade de sucesso. É um desejo imperfeito em si mesmo. Ou melhor, imperfeito nos seus resultados, mas perfeito em si mesmo, porque se consome da própria matéria e nada mais. Não há nada além do sentimento que se projeta. Assim que surge algo, ele se desfaz.

Nisso passam-se os dias. Repletos de horas de sono forçadas, introspecção, um controle remote ziguezagueante a zappear por imagens bestas projetadas na minha retina tetraplégica e sem vida, doses cavalares de Dormonid e silêncio. Muito silêncio.

O telefone não toca. Sinal incontestável de que algo se quebrou. Admitido isso segue-se mais uma tentativa de seguir adiante, sempre em frente. Sem esperança, mas sempre em frente enqüanto estática no mesmo lugar.

1.04.2008

What am i to do?

"Melancholy" - marker, ink and watercolor on paper - 9 " x 12 " - de suckatlife
"We walked arm in arm
But I didn't feel his touch
A desire I'd first tried to hide,
That tingling inside was gone
And when he asked me: 'do you still love me?'
I had to look away
I didn't want to tell him
That my heart grows colder with each day
When you love so long
That the thrill is gone
And your kisses at night
Are replaced with tears
And when your dreams are on
A train to train wreck town
Then I ask you now, what's a girl to do?
He said he'd take me away
That we'd work things out
And I didn't want to tell him
But it was then I had to say
Over the times we've shared
It's all blackened out
And my bat lightning heart
Wants to fly away
When you love so long
That the thrill is gone
And your kisses at night
Are replaced with tears
And when your dreams are on
A train to train wreck town
Then I ask you now, what's a girl to do?
What's a girl to do?
What's a girl to do?
What's a girl to do?"

E ouço agora "What's a girl to do" do Bat For Lashes (uma das mais incríveis descobertas de 2007).

Eu e meus glóbulos vermelhos. O que restou deles.

Os exames comprovam que são os brancos, esses sim, que sempre abundam em mim.