3.31.2005

Castração. Crime e Castigo.

Senta-se. Dobra as pernas, como de costume. Posição budista.
Liga o recém-comprado laptop.
Os olhos brilham, a espinha flexiona-se, reverbera como se respondesse a cada ruidinho que um sonho pudesse emitir.


Um sonho que fabrica sonhos. ( e assim por diante... espera... internamente. )

Eternas matryoskas russas para aqueles que sempre estão por desejar algo...
Caixinhas perfeitas dos mais variados tamanhos que ao serem abertas revelam outras caixinhas ainda mais perfeitas e interessantes do que a primeira. Cada qual com a sua surpresa. E o tamanho nesse caso deve ser inversamente proporcional à realização de. Algo. Maior que si própria.

Anna sempre está... A desejar... Algo.

A cama branca, enorme. Gigantesca para alguém que sente-se tão pequena.
Sozinha, na verdade. Solitária.
Foi uma opção. Mas opções não são necessariamente de todo voluntárias.
Há algo por trás. Há sempre algo a respeito do qual não se fala, não se comenta, mas que motiva.
Anna escreve vertiginosamente.
Vertiginosa.
Anna.


Tão pequena e abandonada em sua cama solitária, mas capaz de fazê-lo perder-se por entre suas vertigens.
Composta por milhões delas.
Ainda que pequena, é vertiginosa.


"Petite". Mas repleta de curvas delicadamente, milimetricamente desenhadas ao redor e dentro de si própria. Como uma ilustração art nouveau a tomar vida diante dos olhos de... Ninguém, talvez. Oculta sua grandiosidade por entre paredes de um branco hospitalar e debaixo de um edredom mais aconchegante do qualquer memória remota que possa ter do seio materno.

Há vertigem pelas costas de Anna.
E deve-se tomar muita cautela para não padecer de tontura e, por vezes, até mesmo um certo enjôo. Ao passear por suas costas. E espinha dorsal.


Anna escreve vertiginosamente para passar o tempo. Para esquecer as dores.
Ou para lembrá-las até. Mastigá-las. Remoê-las. Na ânsia de torná-las cada vez mais digeríveis, mais pastosas, mais fáceis de descer garganta abaixo ainda que lhe causem úlceras.
Anna não teme por suas úlceras. Teme, sim, pelas feridas que se formam na sua laringe e se espalham pelo céu de sua boca. Queimando. Incomodando. Impossibilitando-a de digerir coisas novas. Amontoando dores dentro de si. Dores não vomitadas, não expelidas. Dores somente sofridas, bem ali, no centro da sua garganta. No seu centro nervoso particular e secreto.


Incômodas. Como tosse engasgada.

Anna está deprimida.
Toma suas pílulas religiosamente. Pílulas brancas ( "duas, por favor "), pílulas rosas, comprimidos azuis.
Sente-se ligeiramente melhor. Menos passiva. Menos morta.


Escreve linhas e linhas e linhas, sem sair ainda de seu quarto. Porque ele lhe é uterino. E as pílulas ainda não fizeram efeito o suficiente para arrastá-la para fora de algo tão seu e tão capaz de agasalhar-lhe até seu âmago. Porque todo resto lhe parece inóspito.

Seria "quase perfeito" ( dentro das perspectivas e do laudo psiquiátrico ) se não fosse por um problema.
Remédios anti-depressivos mandam sua libido para o cacete. Ou melhor, para bem longe dele.


E não é que Anna não pense em sexo, não deseje sexo ( não só sexo. mas tudo relativo a este. e tudo relativo a sexo é praticamente... Tudo.).
Sempre foi libidinosa por natureza. Despudorada. E agora isso. Esse impeditivo químico de efeitos físicos desastrosos.

Mas está doente. Severamente doente. Portanto, continua a tomar as pílulas.

E diante do estado impassível de prostração em que se encontrava, que importa sua libido?

" Que importa minha libido?!?! Que importa minha libido é o caralho!!!!
Ou a total ausência deste. Porque meu caralho foi pro brejo e é foda...
E todos esses trocadilhos, e toda essa impotência que só me lembra da ausência de...
Porque é por isso que eu me guio... Pela ausência de...


Talvez por isso, a depressão. Devido à eterna insatisfação.

Eu li "Mrs. Dalloway" e chorei. E li / vi "The Hours" de Michael Cunningham. Eu me vi. Espelhada em Laura Brown. E eu não conseguia em momento algum culpá-la pelo abandono da família.

Minha avó fugiu de casa. Abandonou casa, marido, filhos pequenos, tudo. E foi embora... Atrás de um bloco de Carnaval. E seguiu... Folião após folião.
Até ter câncer de mama e morrer... Do coração.


Há castigo nisso? Punição? Sim, há. Desnecessária, castradora e injusta. Mas há.
Porque não é permitido viver como Laura Brown e não se corroer de culpa - ainda que socialmente imposta e não naturalmente válida - e não ser devastada por um câncer ou qualquer outra doença que lhe faça pagar em vida por pecados que você nem crê que os cometeu. Mas Alguém crê. Filhos da puta!

Eu não julgo minha avó. Eu respeito. Eu li "Casa de Boneca". E temi por isso...
E é como se eu fosse punida por todas estas histórias umbilicalmente conectadas. Por toda essa vertigem congênita. Por todo esse mal hereditário. Por ter tido durante muito tempo uma alma ávida, delirante, curiosa, intensa, insaciável.

Eu vi "As Horas" e chorei. Porque percebi que nunca seria feliz. Porque nunca seria satisfeita. A insatisfação persegue aqueles que abundam desejo. Transbordam.
E por isso, sou punida. Com essas merdas dessas pílulas castradoras. Que diminuem em muito uma parte do meu desejo, mas cujo efeito é só aumentar a minha insatisfação.


Masturbei-me três vezes hoje. Seguidas.
Nada. Não sinto nada.
Tranco-me dentro de casa nessa vida celibatária por pura falta de interesse. Em geral. E era suposto que eu me sentisse melhor.

Normalmente me sinto, mas hoje... Não dá.

Sinto-me impotente, castrada, insatisfeita e insuficiente em mim mesma. Com o caralho cortado, partido. Flácido e estupefacto diante da sua total impotência. Eu e meu caralho caído. E as pílulas rosas, brancas e comprimidos azuis.

Eu escrevo. Porque não gozo. E compenso minha frustração com o que me dá prazer. No que ainda me é possível. E eu me sinto punida! Porque nesse exato momento Deus é um filho-da-puta machista. Que fez das mulheres esses seres sensíveis e fez de determinadas mulheres seres ainda mais sensíveis, e exatamente por isso, por mais contraditório que pareça, fortes. Seres que reverberam ao menor dos estímulos. Porque era assim que eu era. ERA! E é como se agora eu estivesse sendo punida por ter gozado demais, por ser sensível demais, por ser artista demais. Por ter ousado no campo do não-possível. Não-permitido. Restrito. E eu nem mando Ele se foder porque nesse exato momento eu quero mais é que o pau Dele apodreça!

( suspiro )

Frustrada. Visivelmente. ( e de nada adianta... )
E inversamente... Reverberando em todos os meus outros sentidos possíveis e imagináveis. Criando peças, livros, colunas, artigos, roupas, quadros, poemas.
Todos fálicos.

Orientados pela ausência de ....
Ausência intrínseca, interna. A pior das ausências..."


Anna larga o laptop. Dirige-se à cozinha disposta a esmurrar seu analista.
Não que ele viva em sua cozinha, mas antes de esmurrar alguém é sempre recomendável que se tome um copo d'água.
Dirige-se penosamente ao filtro elétrico. Toma um copo d`água.
Len ta men te
Que escorre vagarosamente por sua garganta travada. Inflamada.
Inflamação abafada por uma golada d'agua e quatro comprimidos.


Volta ao quarto.
Apaga a luz.

Coloca "Felt Mountain" no Cd player. Volume baixo.
Puxa o edredom para si.

Isola-se. Mais uma vez.




( e deixa para trás um texto inconcluso. perfeitamente de acordo com a inconclusão emocional na qual se encontra agora.
sempre? ... )



..................................................................................................................



"Brown paper bag makes for a hat
When it rains on
Your head mate
Cheers for that."

"I'm super brain.
That's how they made me."



( lágrimas. abundantes. em cascata. )



- respectivamente "Paper Bag" e "Utopia" do álbum "Felt Mountain", do Goldfrapp - que toca incessantemente, reverberando de modo infindável espinha abaixo de Anna - que não pode nem chegar perto de "Black Cherry", por motivos óbvios para os que conhecem a banda.


3.29.2005

Ataque histérico, da importância do cabelão e agora... Rumo à América. Fim do Blog.


nota particular à autora, posta assim em público, porque ela é invariavelmente histérica ( em tentativa - quase frustrada - de recuperação ) e precisa de atenção: "Como eu espero ser de fato uma escritora e ganhar minha vida vendendo livros, se aqueles, que eram para ser meus semi-coleguinhas do peito ( porque a autora também é desconfiada e raramente se permite mais do que isso no que diz respeito a relações pessoais) não visitam meu blog e tudo o que eu consigo são no máximo dois comentários? Depois de Hoooooooooooooooooooooooooooooooraaaaaaaaaaaasssssssssssssss ( histerismo grave... gravíssimo ) escrevendo o texto abaixo?

Então... Recompondo-me ( risos pela total impossibilidade do fato - de se recompor. ), se o máximo que consigo são dois comentários isso significa que venderei aproximadamente dois livros? E se eu fôr considerar que ao contrário do blog, no qual eu jogo minhas pérolas aos meus porquinhos preferidos, que é diversão gratuita, o livro, por mais barato que seja, vai ser pago, será que eu realmente conseguirei vender duas míseras cópias? E ainda... É possível considerar-se escritora com duas cópias vendidas? ( boato interno: sim, senhora. escritora frustrada e falida. )

Hmmmmmmmmmmmmmmmm...

Eu tenho que reavaliar minhas prioridades profissionais. E dada minha capacidade ao histerismo agudo e dramaticidade, talvez, eu devesse considerar ser atriz.


(...) ( pensando )


É isso! Vou atuar em América!
Assim já tenho escalação garantida devido aos longos cabelos ( rios de dinheiro da Globo economizados com mais um mega-hair desnecessário naquela novela - que quase se aproxima a um dos já mencionados filmes contemporâneos de terror japonês devido ao excesso de elementos capilares. E numa novela de rodeios e peões não tem como não associar todo o rodeio em si com a expressão: "Força na Peruca!" Poderia ser mais trágico?! E ao mesmo tempo, mais coerente? ) e com sorte, ainda esbarro ( novamente, mas dessa vez, sem erros de estratégia ) com a Mariana Ximenes.

Com licença, meus dois adoráveis leitores, estou indo rumo à "América" ( a novela, claro ).


p.s. Blog hype é blog curto, né? E ainda existem livros sendo vendidos no Brasil? Vai saber... E eu, além de histérica, me descubro delusional, porque pretendia ser escritora... Ai de mim!
( ah... depois de tanto histerismo e dramalhão, eu tinha que terminar assim. Deborah Secco e Florbela Espanca perdem. Escalação garantida. Até porque, depois deste texto, perdi completamente qualquer credibilidade no ramo da literatura. ).

3.27.2005

"Crazy ( in love? ) - Lunatic Mix" - Beyonce ft Jay-Z


nota ao leitor: texto melhor compreendido ao som de "Crazy In Love" - de Beyoncé Knowles featuring Jay-Z.


"Pãm PamrampãparamPÃM. PamrampãparamPÃM.
PamrampãparamPÃM. PamrampãparamPÃM.
PamrampãparamPÃM. PamrampãparamPÃM."

Beyoncé: "Are you ready?"

Mariana: " Não, definitivamente não estou. Mas dada a minha constante capacidade de mutabilidade e adaptação até mesmo à atmosfera mais árida e destrutiva, ok. E além do mais... Nesse estágio de total imprevisibilidade quanto ao que há por vir e conseqüente impotência, só me resta dizer: Ok, go!"

Mariana entra no ônibus. Rumo à Praia do Flamengo.
Vai tomar sua dose de sadismo elucidativo e necessário semanal. Ela precisa.

( "E há alguém que NÃO precise?" - questiona-se. "Porque até o mais miserável dos seres humanos, aquele do qual só me resta ter um mínimo socialmente conveniente e educado de pena, até mesmo ele, consegue se superar em algum ponto da sua miserabilidade - nem que seja no ponto referente às severas doenças mentais - e sim, normalmente é exatamente nesse ponto - que faz com que mereça um bom e estalado tabefe na cara." )

Oh-oh oh-oh oh-oh oh-oh...
( telefone toca )
Oh-oh oh-oh oh-oh oh-oh…
( número desconhecido. "Será que pode ser ele desmarcando a consulta?" )
Oh-oh oh-oh oh-oh oh-oh...
( resolve atender, muito embora seja pós-graduada em filtrar ligações - conhecidas ou desconhecidas. )
Oh-oh oh-oh oh-oh oh-oh...
( voz familiar razoavelmente desfigurada por ruídos estranhos emitidos pelo próprio locutor. Algo como: " nhénhénhérrrrrgggttuhhfddrtgbbhyhjbnbvcffghbbnhhdoorkut." - fungo intenso - a pessoa em questão chorava histericamente.

A despeito do comentário "doorkut" que não parecia fazer o menor significado auditivo e lógico no meio daqueles ruídos amontoados que a remetiam a uma cena de assassinato. Daquelas. Bem baratas de filme de "terror" contemporâneo: em que a pessoa, enqüanto está tendo sua casa invadida , arruma algum tempo para num arroubo de insanidade, ao invés de dar umas belas porradas no assassino - normalmente mascarado ou alguma criança japonesa dos infernos que sofre de excesso de elementos capilares, venham estes da cabeça ou de dentro da sua boca - excessos capilares que Mariana acredita serem resultado de uma mal realizada escova progressiva, cuja conseqüência foi a morte da criança que volta do Além para assombrar pessoas com cabelos lisos - Mariana tem até mesmo um projeto de um curta a respeito da "Escova Progressiva Assassina" - Mariana pensa demais, muitas vezes em coisas de menos - mas ao invés de partir para a agressão física justa e necessária com o assassino em potencial, não, resolve ligar para alguém por pura necessidade de chamar-lhe a atenção e burrice. Dependendo da pessoa, acredita ela, que dadas as circunstâncias e o tempo, ligaria para todos os seus contatos do celular, ao invés de fugir ou simplesmente atacar o filho-da-mãe. Estaria isso mais de acordo com a conveniência mental do potencial assassinado.

Mas enfim, o resultado lógico do telefonema desesperado associado aos grunhidos histéricos foi:
"_ Puta que pariu! Alguma amiga minha deve estar em perigo! Provavelmente acabou de ser estuprada, ou teve a casa violentamente assaltada, ou qualquer coisa trágica e invasiva desse gênero." E pensou isso seriamente porque o desespero realmente parecia real e avassalador.

Decidiu resolver o problema por partes:
"Hã?!" - porque oras, não havia entendido.

"( funga. funga. funga mais uma vez. trêmula. ) nhénhénhérrrrrgggttuhhfddrtgbbhyhjbnbvcffghbbnhh DO ORKUT."

( "Do Orkut? Foi isso que entendi? Do Orkut? )

"Hã?!"
"nhénhénhérrrrrgggttuhhfddrtgbbhyhjbnbvcffghbbnhh DO ORKUT."

("_ Ok... Do Orkut. Até onde eu saiba ainda não é possível se realizar assassinatos via web, em especial, via Orkut. A menos que se trate de exclusão social - o que não deixa se ser conexo à morte, mas esse foi um processo já visto antes com o advento do fotolog e que por isso mesmo... - não estou lá muito interessada." )

Sabia do que se tratava. Uma total besteira virtual envolvendo furto, apropriação indevida e o conseqüente surto.

Mariana havia sido roubada. Nada de mais. Nada de novo. Mas algo de não tolerado.
O poema preferido. O auto-biográfico.
Mariana não tem sangue de barata. E não suporta injustiças.
Então... Delicadamente... Deu no autor do furto ( ou seria apropriação indevida? Ainda não se decidiu. Bem, possivelmente o último, já que foi Mariana mesmo quem apresentou o poema-alma para a outra. ) um tapa com luvas de pelica em forma de scrap.

( E nesse momento, eu, autora do texto infâme, tenho que intervir. Porque odeio internet! E escrevo num blog! Odeio internet! E escrevo, assim como Mariana, scraps! Odeio internet! E por saber do feito virtual de Mariana não tenho como ignorá-lo. Como autora, sei que poderia fantasiar... Alterar os fatos - o que faço até bem constantemente - escrever ao invés de "do Orkut", "O scrap", falar da carta enviada em papel bege e grosso que esqueci o nome agora, selada com cera e carimbo, com a ajuda de uma vela e cera dura vermelho sangue, no meio de uma madrugada da poética Mariana. Porque Mariana é poética. Mas às vezes falta-lhe saco. )

Não tinha feito nada demais. Não reclamou pela autoria do poema, até porque, ( apesar de louca, como bem disse o sádico, era extremamente lúcida. De uma lucidez desconcertante e ácida. ) ...
O poema não era seu. Não o tinha escrito. E AINDA não detinha os direitos autorais sobre ele. Mas detinha sim, dentro de uma gama bem diminuta de pessoas, na qual a autora da apropriação indevida e atual vítima de um derrame cerebral dos mais escandalosos possíveis ( Maria Callas perde. ) estava contida. Sabia que o poema "era dela". Sua alma impressa nas palavras da outra. Suas nuances, sinuosidades. Seus segredos. E pegar assim, um segredo do outro e colocar como seu... Para Mariana esse é o mais abominável dos crimes!

"_ É roubo de alma! Ou tentativa de... Porque minh'alma não cabe por inteiro na cama de ninguém, então se contenta com isso, com as migalhas que jogo displicentemente - por burrice minha, admito. E um que de narcicismo - no chão. Mas saiba duas coisas: que me afeiçôo pelas minhas migalhas de alma, e lutarei por elas; e segundo, que o roubo nunca será absoluto. Já disse: não cabe!"

Cristina mentalmente:
"I like to stare so deep in your eyes
I touch on you more and more every time
When you leave I’m begging you not to go
Call your name two three times maybe four
Such a funny thing for me to try to explain
How I’m feeling and my pride is the one to blame
Cause I know I don’t understand just how your love can do what no one else can."

"-Hã?!"
"-"nhénhénhérrrrrgggttuhhfddrtgbbhyhjbnbvcffghbbnhh DO ORKUT." - e mais lágrimas, e mais fungadas, e mais doses letais de histerismo.

"- Olha eu não estou entendo nada, Cristina. Não consigo entender o que você está falando. Toma um copo d'água, ( mentalmente: "muito embora, se eu tivesse paciência, tempo e possibilidade física eu te daria uns tabefes na cara. Não por puro sadismo. Mas porque tabefe na cara é o antídoto mais renomado em termos de solução de ataques de histeria." ) e me liga mais tarde ( mentalmente: "pqp! tomara que não ligue, porque que não estou com o menor saco. Mas por mais fama de filha da puta e escrota que eu tenha - por vezes merecida - eu simplesmente não tenho como ser tão vil com um ser humano no auge de um ataque histérico. É questão de humanidade, e sim, por mais que eu não queira, ainda sou dotada desta. Mal congênito.").

"-Ok. Beijo. Tchau."
"-Ok. Beijo. Tchau."

Cristina mentalmente:
"When I talk to my friends so quietly
We be thinking, look at what you did to me
Tennis shoes don’t even need to buy a new dress
If you aint there aint no body else to impress
The way that you know what you oughta knew
That’s the beat that my heart skips when I’m with you
But I still don’t understand how love your love can do what no one else can"

Clímax do histerismo, entende?

Já Mariana:
"Oh-oh oh-oh oh-oh oh-oh…
Oh-oh oh-oh oh-oh oh-oh…
Oh-oh oh-oh oh-oh oh-oh...
Oh-oh oh-oh oh-oh oh-oh..."

Oh-oh - de problema.
Oh-oh - de pessoa indesejada que reaparece no ICQ.
Oh-oh - de discussões indesejadas.
Oh-oh - de estupefação diante de tanto histerismo.

O ônibus segue... Ainda rumo ao Flamengo.
Vamos tentar não perder o eixo aqui.

Mariana sabia que suas linhas haviam sido escrotas. De uma escrotidão daquelas, das piores. Disfarçada de carinho. Passivo-agressiva, onde o passivo é menos por drama e mais por dissimulação. Porque não seria capaz de ser mal-educada em público. Tão somente, escrota.
Mas a escrotidão dirigida a era indubitavelmente merecida. Fez por onde, meu bem. E Mariana sempre avisa que é óóóóóótimaaaaaaaaa com que gosta, mas não pise nos seus calos, porque Mariana sabe ser pééééssimaaaaaaaaa. Não é ameaça, é puro fato.
Tem vontade de parafrasear Bette Davis ( foi ela que disse isso? ) : "Quando eu sou boa, sou ótima. Mas quando sou má, sou melhor ainda."
Mas a frase já está em franca decadência. Muito clichê e demodé. ( Em especial após ter sido usada, soube ela via jornal, por uma atriz de quinta numa novela de uma rede de televisão evangélica ). E apesar de Mariana odiar computadores e adorar cartas lacradas com cera vermelha derretida, ela ainda se engalfinha com o por demais gasto e antigo. Mas apenas se fôr por demais.

Pensou ter causado mal à menina. E o pior... Não sabe bem porque, acreditava que Cristina pensava que a maldade tivesse sido feita por outra pessoa. E o ataque era resultado da sensibilidade diante da maldade de outrem. "- Que merda. Porque fui eu mesma. E eu não sou de, e nem vou, me furtar à sinceridade para com e às conseqüências do meu ato. ... Vai ser chato isso..."

Rumo ao Flamengo.


"pípípí" - sms no celular

"Oi, sou eu. Muito linda a declaração que você fez de que somos almas gêmeas, etc e tal. Fiquei emocionada. Chorei muito. Mas gostei... Depois nos falamos, então. Beijos, Cristina."

Oh-oh oh-oh oh-oh oh-oh…
Oh-oh oh-oh oh-oh oh-oh…
Oh-oh oh-oh oh-oh oh-oh...
Oh-oh oh-oh oh-oh oh-oh...

(risos. HISTÉRICOS ).

Tinha duas opções: acreditar na sinceridade da mensagem e admitir a absoluta loucura inconsciente com a qual lidava OU admitir que ela também era esperta, e utilizou-se - como já havia previsto - da menor manifestação da sua parte ( de Mariana ) , por pior que fosse, para recriar um vínculo entre as duas. Fazendo-se de sonsa para obter o desejado.

Mariana fica com a segunda opção. Um, porque não é boba. Dois, porque para ter sido sua amiga há tanto tempo, aí tem...

E enfim, deve admitir que só viu a "apropriação indébita" por realmente ter sentido saudades. Admite: é humana. Tem saudades. Não a quer para si, mas não deixa de lhe querer... Bem.

Vínculo deficientemente recriado. Vida segue... Ônibus pára.

Mariana salta.
Percorre o jardim até a gaiola espelhada.
Ruídos de patos, folhas secas e crianças...
E a música a ecoar no fundo, vindo lá da dita conexão mental com Cristina, que lhe diz entre lágrimas de falsa felicidade e real sensação de ter sido pega desprevenida e acusada da sua loucura tão esforçadamente ( mal ) disfarçada...

"Got me looking so crazy right now
your loves got my looking so crazy right now
Got me looking so crazy right now
your touch got me looking so crazy right now
Got me hoping you’d page me right now
your kiss got me hoping you’d save me right now
Looking so crazy your loves got me looking got me looking so crazy your love..."

Porque Beyoncé prova toda minha teoria de que é possível ser filósofa e gostosa.
Beyoncé é sábia.

Somos todos loucos. Sorte dos que têm consciência disso e tentam manter a própria loucura sob constante observação e monitoramento.

Mariana finalmente adentra, às gargalhadas, o consultório do seu psiquiatra...

"_ ( risos ) Então... Nem te conto... Todo mundo é LOU-CO! LOUCO!
Ah... Mas ok, disso você já sabia... Na verdade, é essa a premissa que valida todo o dinheiro que você tira de mim."

( sorrisos )

"_ Mas então... Deixa eu te contar..."

Pãm PamrampãparamPÃM. PamrampãparamPÃM.
PamrampãparamPÃM. PamrampãparamPÃM.
PamrampãparamPÃM. PamrampãparamPÃM.


Looking so crazy your loves got me looking got me looking so crazy your love.

Oh-oh oh-oh oh-oh oh-oh…

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E eu sabia, que mais tempo, menos tempo, eu ia ter que esculhambar com esse blog.

3.21.2005

A impossibilidade de... E os conflitos internacionais.

"(...) E ela queria ser sublime para ele.

Sempre quis ser sublime; uma pretensão fadada á frustração. Porque, conseguindo-se ou não, em nada se será beneficiado. Ninguém quer conviver com a sublimidade - é o tipo de qualidade absoluta que exige serviçais, não convivas."

- autor conhecido, propositalmente não mencionado. e tão... não conhecido, no entanto. -

"_ Puta que pariu! Esse irlandês é o homem mais sortudo da face da Terra!"

Mas será que Ele sabe?
E mais importante... Será que Ela sabe Que Ele sabe? Ou SE ele sabe?

Alaíde se questiona. Por demais.
Porque sofre. Ou da abundância ou da ausência de.
Nesse momento, da abundância de dúvidas e da perene ausência de auto-estima.
Alaíde o questiona. O e não lhe. Porque questiona Ele, e não A ele. Porque é silenciosa no que realmente importa. Ainda que emita ruídos estridentes na maior parte do tempo.
Menos estridentes pelo que inflamam e mais pelo que escondem e revelam.
A ausência de.
A necessidade.

Alaíde necessita.
Frustra-se. Pois necessita do intangível. Do in-atingível.

Alaíde é poesia e fluxo.
Fluida...
Passa pela vida em lágrimas e gozo que escorre pela cama...
Desliza...
Sem ser pega. Sem ser concreta.
Sendo. Ao nunca ser.

Alaíde ainda adoece.
E chora.
E pergunta as perguntas erradas. Num jogo em que as respostas nunca foram importantes. Mas as perguntas... Cruciais.


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E que se foda a Irlanda!
Nos preocupemos com a China!
Porque se a Irlanda não sabe da importância e sublimidade da China, pouco importa!
O que importa é a falta de consciência chinesa acerca de si própria.


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"Porque eu não acredito mais numa caralhada de coisas em que eu acreditava"

- não sou eu. é Ela. mas somos nós. -


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Ainda sobre o conflito internacional sobre Irlanda e China.
Umas últimas palavras.

"E culpado por estar ao meu lado, transformando-me assim na personificação do indevido. Sou tudo o que é errado, o pecado, o contra-indicado. Aquilo que deveria ser logo extirpado, ou tratado como um câncer. Você me julga maléfica. Restringe, então, as minhas possibilidades, para que eu caiba no seu setor mental reservado à remoeção de misérias. Sou isso, sua miséria, sua porcaria."

Ou fui?

"Está certa de que sempre houve, e sempre há de haver, mulheres que simplesmente são. Alguma coisa. Sem necessitar do homem como paradoxo. E ela não é a garotinha de marmanjo algum. Pode perfeitamente viver sem Rigel ou sem outro. Não precisa dele nem de outro.

(...)

... a mulher não precisa mais do homem e o homem não precisa mais da mulher. O que parece torturante é conseguir se encontrar nessa ausência de função de um para com o outro."

- da minha amiga imaginária -


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Alaíde se perde.
( entre as dúvidas e os divãs )
Para se encontrar.
Permanece na mansão. Por ora...
E agradece à amiga imaginária não ausente pela absoluta falta de presença física.

E pelo texto... Escrito a quatro mãos.

Tortura-se.
Mas segue, sempre.



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Post Scriptum interno:

Duas horas depois...

"Livrei-me de você, mas o contrário não ocorre.
Cansei-me.
Admito a culpa. A brincadeira narcisística e sádica resultou em loucura. Minha e sua.
Mas eu trato só da minha.
Somos loucas. Todas.
Mas SOU. Tu não ÉS, aparentas ser. Não louca. Porque a loucura fatalmente te pertence, assim como a todos nós.
Mas aparentas ser ... Eu.

Cada um tem a Vogler que merece. E a sombra que nos persegue por própria escolha.
Muito lisonjeiro pode parecer, mas dispenso. Aprendi a técnica da auto-esculhambação em prol de um maior contato com a realidade.
Quebrei o espelho. Lembra?

Minh'alma não cabe na cama de ninguém, eu bem já disse.
E não há de caber no teu berço de marcenaria barata.

Desiste. Porque eu já desisti.

Fechada em copas, restam-te folhas mortas. Já puídas. Já desatualizadas.
Pesquisa permanentemente inconclusa e fadada à frustração.

E nesse exato momento, eu quero que a Irlanda se foda. Por mais que eu a ame.
E se possível, que a Irlanda foda logo com a Coréia junto, tomando-lhe por China. Confundindo.
Porque assim a Coréia acalma.

"Então vai! Come logo ela (sic)! E come bem comido ou mal comido, tanto faz. Contanto que você lhe chame de Alaíde...
Faz o exorcismo. E livra a menina. Tanto de mim, quanto dela mesma.
E eu aproveito a deixa para me livrar de vocêS."

3.15.2005

Rumo à Mansão Foster de Amigos Imaginários... Ou o que quer que isso signifique.

Alaíde escreve em código. Um código muito pessoal, que só ela decifra, só ela conhece.

Mas existe um motivo.

Alaíde espera. Por alguém.
O leitor perfeito, que um dia vai aparecer de susto, sorrateiramente, e num instante entender todas as suas referências. Referências meta-individuais. Escondidas em espaços entre vírgulas, ou na colocação específica de uma sílaba.

Alaíde sonha. Procura o impossível. Aquele. Do campo do intangível.

Alaíde adoece...
Sozinha.
Perdida dentro do filme não-realizado do Bertolucci.

i-rrealizável...

Chora.

Entre uma lágrima ou outra
Alaíde
adoecendo
escorrega sua mão umbigo abaixo
para dentro
da calcinha rendada
e procura-se
em frente ao espelho.

Alaíde aguarda uma carta. Não-escrita.

"Com licença..." - diz Alaíde. "Estou indo para a Mansão Foster de Amigos Imaginários..."

E nunca foi para ter graça.

Feliz Aniversário...


"Querida Mamãe,
Esse ano não haverá flores, chocolates, porta-retratos, ou qualquer outro presente de aniversário com o qual você já esteja acostumada. Hoje, resolvi dar-lhe algo mais sincero e especial, e reservado a poucos, bem poucos: uma parte do meu mundo. Não que ele seja lá tão grandes coisas assim. Mas é meu. E é sincero e poético. E nada melhor do que começarmos com Clarice, nesse nosso primeiro passo ( rumo ao mundo de Elisa ). Clarice... Que me traduz em palavras e me desnuda página após página; que ela seja não só tradutora, mas também elo, entre eu e você.

Espero que com esse livro estreitemos não tão somente nossos tão falados "laços de família", já que esses são evidentes e não demandam muito mais do que uma árvore genealógica em comum, mas especialmente, nossos laços de amizade, admiração, amor e compreensão. Que com esse primeiro livro, e também primeiro passo, adentro meu mundo, você consiga ver um pouquinho mais da tão evasiva e fugidia Elisa. E quem sabe, compreendê-la melhor? Ela, que é tão repleta de enigmas e mensagens cifradas escondidas dentro de caixas de música quase silenciosas.

Toma! Coloco um pedaço do meu mundo no teu peito e entre suas mãos ( assim, em letras pequenas, pois é como escrevo. num semi-sussurro. com a timidez e o resguardo de infância tardia. quase despercebidamente. ). Cuida bem dele, por favor. Não faço isso com freqüência, e você, por ser a mais especial, não merecia menos do que este presente e este convite meu "às minhas coisas". Te amo muito. Feliz Aniversário!

Beijos da sua filha "torta" e escritora,

Elisa.

Rio de Janeiro, 14 de março de 2005."
- sentimentos impressos na contra-capa de um livro. dO livro. -
P.S. Porque Elisa sabe ser meiga. E brega. E sincera.
Elisa é, afinal de contas, humana.
Filha.
Porque Elisa ainda tem esperança.
Tenta.
" E eu abri uma fresta da porta de entrada. Assim, pequenina. Um quase nada de fresta.
E Ela espiou para dentro do quarto.
E me pegou. Com lágrimas nos olhos, pés desnudos e vestindo somente a calcinha retrô de babados que encomendei.
Olhamo-nos. "
Sorriram...

3.09.2005

Uma Bufa de Felicidade

Os passos tortos, mas leves, a varrer o parque...
Não flutuava pela incrível impossibilidade do feito.
E também por um certo cansaço que lhe tomava conta.
Calor...

Havia sido sádico, extremamente sádico. Interrompeu-lhe no meio do discurso inflamado, repleto de questionamentos e possíveis elucidações;
"_ Continue sonhando. Paramos por aqui. Nos vemos na próxima semana."

A tônita.

Procurando uma resolução mais instantânea para seus problemas deparou-se com uma gaiola feita de prata e ilusões. Gaiola "david-lynchiana".
E ele a saudou com um
"_ Não há saída fácil. Percorra o caminho difícil."

Bem, uma hora há de cessar.

Ou isso, ou alguém morre.
Mas importa?

Não, não importa... O que importa eram os passos vagarosos sobre folhas secas.
Folhas secas, calor infernal e ruído de patos e crianças.
Impossível diferenciar um do outro.

E levemente sorveu do chá e deu-lhe um beijo.
Não era masoquista mas pagava-lhe para ser sádico. De aduladores, o mundo está cheio.
Sadismo na veia. Cuspido na cara.
Era assim que gostava.

Agora com os passos já mais rápidos fôra ao encontro do refúgio.
"Debaixo de Vossas Asas" e por entre paredes repletas de livros, cheiro de mofo e pó, escadas que elevavam-na ao outro lado, dentro da sua própria viagem "Carrolliana".

Um presente. Procurava um presente.
Não um, mas O.
Algo que a trouxesse para si. Uma aproximação. Um atalho para o seu restrito mundo.
"Mas não há caminho fácil".
Não, deveras não há. Mas existem caminhos, interessantes...

Não se decidia por Hilda ou Clarice.
Pensou em Manuel Bandeira, mas os cem reais impressos na primeira página logo a levaram para outras estantes.
"_ Ela precisa se acostumar. É uma porta. Para dentro de mim. É o que quero lhe dar."

Hilda ou Clarice?
É mais Hilda. Mistura Hilda e Miller em um copo de drink e o despeja sobre a mesa de jantar.

Mas Hilda seria demais para um jantar de família. Seria a amante que salta de dentro do bolo de aniversário numa sala repleta de gente. O tipo de piada que só ela entenderia, mas não a outra.
A outra... Abafa o riso e se posiciona maravilhosamente de acordo com as regras de conveniência sociais, a etiqueta.
Hilda bufa para a etiqueta. Bufa não que Hilda só bufa de felicidade ou sadismo. Peida mesmo. Com todo o horror, fedor e alarde que um peido pode conter. Hilda é incontinente. E dê graças a isso.

Clarice, por outro lado, lhe penetra de assalto, naquele momento entre o relaxamento profundo e o engasgo.
Silenciosa. Quase sutil se não fosse tão humana. Clarice é it. Comeu placenta. É fluxo revigorante.

"_ Água Viva". Eu sou água viva. Mas água viva queima. E há de queimar até a insanidade profunda e a perdição da esperada abertura de portas. "
Água viva não.
Ficou entre o coração selvagem e os laços de família.
Mas por tudo o que implicava a situação, e de acordo com a opinião da maioria local, optou por "Laços de Família".
"_Mais curto. Aparentemente mais simples. E enfim... Abre margem a uma dedicatória bela, emocionante, brega e quase clichê. "

Dirigiu-se ao caixa. Os dois livros na mão.
Não sei se por maturidade ou mero efeito medicamentoso, está mais, ... Aberta.
Pode-se dizer que até simpática, mas apenas pelas manhãs.

Explicou então o motivo de sua escolha, qual levaria, qual não. E resumiu em exatamente um minuto e meio a história de sua vida familiar inconstante.
"Ela tem outras filhas?"
"Sim, sim. Uma perfeita, casada, perfeitamente dentro dos padrões, um orgulho."
"Pressuponho que essa não seja você."
"Não. Claro que não. Eu sou a água viva. E provoco-lhe surtos."

Sorrisos trocados, desconto dado.
"Volto aqui por Clarice e Hilda. Se bem que... Não encontrei Hilda, mas Hilda se faz de difícil de achar. Já sei como é..." - sorriu.
Pediu que esperasse um minuto. Foi mexer em prateleiras bolorentas, quase camufladas em meio a tanto pó e cheiro de coisa gasta.
E voltou. Com ele entre as mãos, um sorriso recíproco e um
"_Toma. É seu. Presente para você."
Ela, acostumada aos caminhos difíceis relutou em acreditar. A edição era rara. Das antigas. Não se vendem mais as antigas, só as novas, diminutas, da Editora Globo.

Trocaram olhares. Era a prova de fogo.
"_ Esse livro está aqui faz tempo. Não queria colocá-lo à venda pois é raro, não tem preço. Decidi que um dia seria dado a alguém. Esse alguém é você. "

Prova final. Cinco segundos para terminar. Na capa, a rainha da boceta pelada de quatro, apanhando de um pau gigantesco.
"_Vai ruborizar? Vai se envergonhar? Ou vai botar o pau na mesa?"
Era o teste. Queria meu pau sobre sua mesa, publicamente.

Abraçei-lhe e beijei-lhe euforicamente.

Sobre meu pau na mesa...
Fiz melhor: coloquei-o entre meus seios
E prontamente, gozei.

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"Ridendo castigat mores"

O caminho até pode ser difícil, mas há como rir dele, afinal.

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Hilda pode até se fazer de difícil. Mas nada disso. Ela só é seletiva.

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"E os poemas não podem ser economizados para formar uma poupança: eles têm que ser gastos."
- Octavio Paz -

Então, bufe seus poemas, e caso saia resquícios de fezes junto com eles, enfim... Tudo parte do processo e do duro e bufólico caminho...

Bufólicamente...

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P.S. Lendo "Bufólicas" me ocorreu uma ótima idéia de texto-homenagem acerca de uma plebéia que se julga rainha por ter a boceta folhada à ouro. Mas outro dia... Outro dia...

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"Bufa. ( Dev. de bufar ). S. f. Pleb. Ventosidade que se escapa pelo ânus sem ruído."


3.02.2005

Vertendo coágulos...


Mariana senta-se em frente à tela. "Área de trabalho. Área de trabalho. Nada mais".
Um trabalho um tanto quanto peculiar posto que demanda o sacrifício de suas entranhas e intestinos a um sem número de alguéns desconhecidos. Um trabalho escrito a sangue amargo e já endurecido.

Os dedos magros titubeiam diante do teclado. Magros, mas não mais tão frágeis quanto antes. Pensou em escrever outrora, mas sei lá... Outrora... Muito démodé. ( sem trocadilhos ).

Não sabe ao certo o que escrever. Mas avisa mentalmente ao seu leitor para não se preocupar: " Esse não vai ser um texto sobre a dificuldade de se escrever um texto, sobre a falta de idéias e a mais completa indecisão quanto à escolha de um simples ponto ou vírgula."
Muito clichê. Um texto como tantos outros. Meta-textos que na sua opinião deveriam ser metidos na (... ).

Mariana repele clichês. Afasta-se deles como lagarto de sobreaviso no meio de uma trilha no mato. Corre e se esconde. Para sei-lá-onde. Porque o sei-lá-onde é incrivelmente mais interessante. E tão poucos o conhecem. Apesar de estar bem ali.

Porém Mariana reconhece que não há como fugir em absoluto dos clichês. Eles estão lá, do outro lado da porta, à sua espreita. Nos atos mais previsíveis e estapafurdiamente idiotas que a vida nos oferece. No coração quebrado após um romance, nas borboletas no estômago, nas doenças quase siamesas de todos nós... Enfim... Uma sucessão de coisas extremamente enfadonhas capazes de serem vivenciadas aqui, ali, acolá, ontem, hoje, amanhã, e até mesmo por quem menos as merece ( e também por aqueles que, por bom gosto ou puro desgosto, não as desejam para si ).
Não há como evitar o grande clichê em que se desdobram as experiências humanas, e Mariana é consciente disso.

Mas Mariana sabe que o que diferencia é o olhar. E no olhar de Mariana não há uma sombra de padrões já estabelecidos. Seu olhar é curioso, ávido, pinta aquarelas e escreve poemas a respeito do nada, em homenagem a uma folha de papel. Há espaço para Chagal, Dalí, Goya, Klimt e Picasso no olhar de Mariana. Mariana também vê Helmut Newton e Sebastião Salgado. Analisa a trajetória fantástica de uma goma de mascar colada em seu sapato. E vê poesia mesmo onde há apenas o enfadonho, e ainda que misturada a tanta amargura...

Sim, há amargura no olhar de Mariana. Uma amargura madura que denuncia uma idade imaginária não denunciada pelo seus 22 anos. E aí Mariana se dá conta do porque escreve.

Mariana escreve porque tem ácido correndo em suas veias. Mariana verte sangue e no seu clímax hemorrágico não tem mais como SE conter.
Chove lá fora. Torrencialmente. Uma chuva hemorrágica como a que verte dentro de Mariana. E não há saída. Seus orifícios fisicamente saudáveis não dão conta da insalubridade do que detém dentro de si. E surge o dilema:
Porque se despeja seu ácido e dá vazão à hemorragia pelo único orifício que sempre lhe foi familiar e extremamente útil, ao tilintar com as pontas de seus dedos magros sobre um teclado qualquer, sabe que lida com doença. Sabe que lida com a fatalidade, a face oculta. A lesão no córtex cerebral que ninguém quer ver. E Mariana se dispõe a ir lá e enfiar seu dedo sujo bem no meio da ferida. Remói.

Mas se mantém-se retida, não permite a vazão. Torna-se um recipiente perene de todo lixo psicológicamente tóxico que produz e que é produzido sobre si mesma. Definha aos poucos. Deixa a infecção espalhar-se lentamente, até que... Até.

Há então o dilema. E entre assumir sua perfídia e a perfídia alheia, que nada mais é do que a sua própria, tão somente refletida sobre os atos de outra pessoa ( tão humana e tão pérfida quanto ela ); ou adotar uma crença neo-zen-budista-evangélica-republicana de ignorar a sujeira humana e prosseguir com um sorriso plastificado, botoxizado no rosto e pregar a velha e feliz hipocrisia, Mariana não hesita em fazer sua opção. ( até porque depois de ver as fotos de Marta Suplicy pós-cirurgia não há muito o que ponderar sobre o assunto. é caso encerrado - mal encerrado, a propósito. ).

Então Mariana escoa... Tudo aquilo há tanto guardado, putrefato dentro de si própria. Sem a intenção de julgar ou condenar, mas com a intenção de assumir essa sua condição estúpida e maravilhosamente lúdica. De ser humana. E pior do que isso... Escritora.

E Mariana pode não ser Mariana. Porque Mariana são tantas... Mariana se divide, se subtrai, se adiciona, se multiplica, se potencializa com a força de um animal selvagem e faminto, e em questão de segundos.

Mariana é Ana, é Catarina, é Sofia, é Fernanda. Mariana é Teresa, louca, histérica, sonhadora Teresa. Mariana é MAriANAAAAAA. Linda, sedutora, única, carente, solitária por entre portas de ármários que teimam em não se fechar. Mariana é Beatriz, Alaíde, Ingrid, Rita, Leopoldina, Geni, Anastácia. Mariana é Raimunda, não importando se com ou sem trocadilho porque só quem conhece há de saber.

Mariana é mais. Mariana é Eduardo, é Felipe, é Augusto, é Rangel, é João e Maria. Mariana não tem inveja do pênis. Mas pode ter. E se o tem, admite. Ainda que secretamente, num quase-silêncio.
Mariana é una e são várias. Mariana é até mesmo você.

Mariana é Vogler e Alma. Como eu mesma, como tudo.
Mariana não é nada, mas quer ser alguém.

Mariana não é estática, é força pulsante que falseia de corpo em corpo, flutuando por variadas existências sem ter um determinado "EU". Mariana é teatro e vida. É drama que escorre no asfalto da rua ao lado da sua.

Mariana é amphisbaena. Serpente de duas cabeças. Pode tanto ir para o norte, como para o sul. Leste ou Oeste. Pode te fazer o bem ou secar sua alma até te provocar muito mal. Mal reumático.
Mariana tem mil cabeças, dirigidas a infinitas direções, capazes de viver um trilhão e meio de vidas através de um pseudônimo e diferentes visões.

Mariana verte, afinal...