2.25.2008

The New?

Tem tantas coisas sobre as quais eu quero falar.
Tem também um milhão de tantas outras que eu quero escrever sobre e extravasar, mas num local secreto (não que este seja lá muito público).

Mas agora eu não posso.
Compromisso.
Só não sei se comigo mesma ou com a corrente contrária a mim.

Não importa.
Eu só quero postar algo que resume muito das coisas, tanto das que quero falar, como das que também quero, mas somente em segredo.

"I wish I could live free
Hope it's not beyond me
Settling down takes time
One day we'll live together
And life will be better
I have it here, yeah, in my mind
Baby, you know someday you'll slow
And baby, my hearts been breaking.
I gave a lot to you
I take a lot from you too
You slave a lot for me
Guess you could say I gave you my edge
But I can't pretend I don't need to defend some part of me from you
I know I've spent some time lying
You're looking all right tonight
I think we should go"

Interpol - The New

2.21.2008

!!!!!!!!! (beware of the wolves. but the sheep might have very sharp teeth.)

Eu ia aproveitar essa abundância de tempo livre que tenho aqui no trabalho e não aproveito decentemente para escrever uma dezena de coisas sobre o que acomete meus pensamentos nesses momentos de tédio profundo.

Mas aí.

Aí.

Chegou um correio.

Estranho. Inesperado. Que pode nem ser nada. Mas poder nem ser nada abre margem para uma remota possibilidade de ser alguma coisa. E nesses tempos de abundância de tempo livre e cansaço emocional, existe muito perigo em se escrever qualquer coisa que pode nem ser nada.

Mas gostei.
Daí o perigo.

2.11.2008

Da ironia ácida de Kierkegaard ou porque faculdade de Filosofia não tem lá muitos adeptos.

“O desespero mais comum é o de não se ter escolhido ou de não se querer ser quem é; porém, a forma mais profunda de desespero é escolher ser outra pessoa que não a si mesmo.”

- Kierkegaard -


Tão bem escreveu Kierkegaard sobre o que me atormenta. Exceto que, para mim não há diferença. Eu não escolhi quem eu sou. Tampouco desejo sê-la. Considerando a falta de escolha, a falta de desejo e a infelicidade profunda em relação a isso que sou, escolho ser outra pessoa que não sou eu.

(A ironia é que nem mesmo na escolha eu acerto.)

Concordo com a constância do desespero. Mas pelo que se reputa escrito por ele há uma idéia de que se ao menos se aceitasse aquilo que é, ainda que não se tenha escolhido, ainda que não seja o desejado, se ao menos se aceitasse, teríamos somente desespero e não desespero na sua forma mais profunda.


Não sei se isso valeria de muito.


Contentar-se seria a resposta? E ainda que sim, o que ele oferece é tão somente o abrandamento do sentimento de desespero mais agudo para o sentimento de desespero ponto.


Ok, devo admitir que qualquer alívio nesse momento seria bem-vindo. Quando se está a ponto de desejar a própria morte (e digo isso sem maiores romantismos ou afetação. digo isso da maneira mais prática do mundo. há dias em que desejamos dar um tiro em alguém. não damos, porque seria exagerado, inadeqüado, inconseqüente. e, principalmente, porque iríamos presos. pois então. há dias em que desejamos dar um tiro na própria cabeça. não damos por todos os motivos acima expostos - exceto a prisão, que poderia ser substituída pelo hospício caso a tentativa fosse frustrada ou pelo purgatório ou inferno, caso bem sucedida e o suicida tenha sido educado dentro das premissas do catolicismo. adicionamos aos mesmos o fato de que dá trabalho, não temos uma arma em casa, tampouco substância verdadeiramente letal - letalidade que deve ser comprovada pela ingestão de doses pequenas da mesma rapidamente seguida de morte fulminante - ter que tomar uma centena de pílulas que demandam uns 100 litros d'água para descer direito e ainda correr o risco de não se obter o resultado desejado, mas uma cegueira ao invés, francamente... não dá. ou pior ainda, atingir o resultado desejado, mas ter que se deparar com a humilhação infinita de encontrarem seu corpo estirado no chão e bem ali, como se fosse indubitavelmente sua, aquela pança, mole, inchada, repleta de água e falta de dignidade num momento que se portrai por toda eternidade. definitivamente não apoio essa atitude.(continuando as motivações para permanecer vivo/a...), não temos saco de ir na rua justo naquele momento de angústia e tristeza suprema, muitas vezes pontuado por lágrimas a encharcarem o rosto criando uma figura ainda mais trágica e patética daquela que já não desejamos, nem aprovamos. e porque nossas mães sofreriam muito, e eu, particularmente, não gosto da idéia de causar um sofrimento tão grande assim para minha mãe. mas não sei se o resto dos suicidas em potencial compartilham da identificação com esse último motivo. mas não tem problema é só substituir por... e porque sua mãe permaneceria viva, saudável, e provavelmente bem mais feliz, próspera e satisfeita se você morresse primeiro. que graça teria, afinal, morrer sem a possibilidade de atormentá-la diariamente com a sua presença repleta de amargura e cinismo?), voltando, Quando se está a ponto de desejar a própria morte, qualquer alívio que seja nesse sentimento de desespero tão agudo do qual não se vislumbra saída, qualquer, por menor que seja, parece ser bastante bem-vindo.

Ponto para Kierkegaard.

Mas parece que a saída apresentada para esse alívio de pequenas proporções seria a não escolha de ser outra pessoa que não a si mesmo. Um conformar-se. Um equivalente psico-emocional do "sendo o estupro inevitável, etc e tal". Sendo que, nesse caso, o estupro já ocorreu (e continua ocorrendo, ad infinitum).


Por mais lógica e inteligente que pareça a premissa de conformar-se com aquilo que você é, de simplesmente aceitar esse fato e seguir adiante, difícil executá-la.

Escolher ser algo diferente daquilo que se é, caso não seja impossível, é no mínimo extremamente difícil. Exaustivo, em verdade. Mas se a opção mais indicada fôr a expressa no conformismo, convenhamos que muito pouco nos restaria esperar da vida.

Mas esse nem é o ponto principal da minha discordância. O ponto que me atinge frontalmente é que recomendar o conformismo, a aceitação em relação àquilo que se é ainda que não se tenha escolhido ser e não se deseje ser pode parecer (!) bastante prática (se você não tem escolha, escolhido está. Ou seja, o equivalente prático do "Perdeu, playboy!" encontra o "Se fode aí"), mas essa praticidade é meramente teórica (o que por si só já é antagônico). No campo lógico-racional é lindo, poético, genial. Agora, coloca isso na prática, esse aceitar reiteradamente algo que não se deseja, para eu ver.


Daí resulta essa minha angústia, esse meu desespero. Daí a vontade não romantizada de morrer. De simplesmente deixar de existir. De não mais ser (algo que não escolhi e não desejo).


Por mais que a escolha em ser outra que simplesmente não sou redunde numa tentativa eternamente frustrada, não há qualquer outra opção verdadeiramente humana. Porque honestamente, aceitar SER (repare bem que é SER, não é estar ou ficar. não há transitoriedade aí. não é uma situação passageira. é SER. SER. O ser é o é para sempre, o é irrevogável.) algo que não se escolheu ser e pior ainda, que não se deseja (SER), isso é coisa para praticantes muitíssimo avançados de yoga. Não é humano.

Mas o pior de tudo é a ironia ressaltada entre parênteses no início do texto.

Não escolhi, tampouco desejo ser o que sou, mas ainda não escolhi essa outra pessoa para ser que não sou eu mesma.


Não sei o que quero. Não sei do que gosto. Não me resta muito a não ser ficar irritada com tudo.

Se esse texto não fosse meu, eu diria que o nome disso é adolescência, e isso passa, minha filha. Mas não é, e entretanto, aparentemente, não passou.

E só para me irritar mais, segundo o mesmo autor da citação genial acima, a angústia humana é resultado da liberdade do homem, da insegurança, medo causados pela mesma. A liberdade se revela na pluralidade de possibilidades que temos na vida, ou da ausência completa das mesmas.

Não consigo escolher a outra que não sou mas pretendo ser, porque as possibilidades são infinitas (tudo que não sou eu é outro. ou melhor, todos que não são eu, é outro. conceitua-se por exclusão. e eu não sou lá grandes coisas então todo o resto é uma área bem vasta de escolha...).
Ao mesmo passo que...
Não tenho escolha em ser quem ou o que sou pois esta escolha não é minha.


Portanto, de acordo com a gracinha do Kierkegaard, além de profundamente desesperada, eu ainda sofro com uma angústia perene.